Olga Gutmann Ben-Ario (1908 - 1942)
Por: Luiz Gonçalves Alonso Ferreira (1)
Na alvorada de março de 1934, vindo de Buenos Aires portando passaporte americano, desembarcara no Rio de Janeiro um sujeito de nome Harry Berger. Preso pela polícia carioca no natal de 1935, logo revelou-se a identidade secreta do viajante. Chamava- se, o misterioso elemento, Arthur Ernst Ewert, judeu alemão, fichado em seu país de origem, no qual era ex- deputado, como espião. Constava também processo por "alta traição".
Berger era o agente do Komintern, especialista em golpes subversivos, enviado para o Brasil com a missão de dirigir intelectualmente o plano traçado em Moscou, que objetivava a instauração de uma ditadura de tipo stalinista no País, por meio de levante armado. Sob ordens de Berger, lá estava Luiz Carlos Prestes, homem escolhido para encabeçar um "governo popular nacional revolucionário", segundo relatório do próprio Berger para o Komintern.
Olga em 1928, ainda na Alemanha.
Prestes angariou simpatia no meio comunista, pela sua participação na famosa coluna militar, que marchou pelo interior do País, nos agitados tempos do movimento tenentista. Pouco depois, após a conversão de Prestes à doutrina marxista leninista por Astrogildo Pereira, a hábil propaganda vermelha batizou esse destacamento com seu nome, ainda que para isso tivesse de cometer a injustiça histórica de omitir e relegar ao esquecimento a figura do comandante Miguel Costa, principal líder militar da Coluna, ao qual Prestes esteve sempre subordinado.
Pela experiência do período, Prestes recebeu a incumbência de chefiar a ação armada dos comunistas no Brasil. Não poderia haver falhas. O plano deveria ser executado de forma rápida e eficaz, sem oferecer ao governo o tempo necessário para o esboço de uma reação. Para tanto, visando garantir o apoio logístico e os recursos financeiros necessários para tão arriscada empreitada, Moscou fundara em Montevidéu, clandestinamente, o seu Secretariado Latino Americano, órgão cuja finalidade era aproximar as organizações comunistas latinas, a fim de impulsionar o movimento vermelho na América do Sul. Foi este o fato que gerou, ainda em fins de 1935, após o malogro da tentativa de assalto comunista ao poder no Brasil, o rompimento das relações diplomáticas do Uruguai com a União Soviética.
A Intentona Comunista de 1935, portanto, fora concebida e preparada em Montevidéu, como bem atestaram os jornais da época no Brasil, entre os quais, o Globo. Durante os preparativos para o golpe, visando despistar quaisquer suspeitas a respeito de seu enviado revolucionário, destaca Moscou, como esposa de Prestes, a judia alemã Olga Benário, conhecida já em seu país pelas suas ações subversivas. Cumpre destacar, nesse ponto, fato desconhecido da grande maioria dos brasileiros sobre a chamada Intentona: a do envolvimento direto de grande número de israelitas (infiltrados no País) na conspiração comunista de 1935. De fato, como fartamente registraram os jornais, poucos dias após a supressão do levante no Rio de Janeiro, a eficiente polícia carioca, na jurisdição dos 13° e 14° distritos policiais, deteve 23 comunistas de origem judaica (longo ficaria citar a relação dos nomes), todos ligados à Brazcor, organização revolucionária comunista, mantida e orientada pelo PCB. Essa associação mantinha uma biblioteca popular israelita de nome Schelomo Alcichem, instalada à Rua Sen. Euzébio n° 59, bem como, uma cozinha proletária comunista, que servia refeições na Rua Visconde de Itaúna. Publicava a revista de cultura moderna Volkekultur.
Luiz Carlos Prestes
Quando assistimos ao filme Olga, de Jaime Monjardim, inquietou-nos não somente a lamentável omissão destes relevantes fatos, como também, a superficial abordagem sobre as sublevações comunistas em Natal, no Recife e no Rio de Janeiro. Querer romantizar as figuras de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário, criando um clima nupcial ao longo de todo o filme e, por tabela, apresentá-los como porta- vozes e defensores da liberdade humana e da democracia e, no mínimo, insensatez e cinismo puros.
Esquecer (ou omitir tendenciosamente) o assalto à Escola de Aviação, em Marechal Hermes, onde oficiais brasileiros foram assassinados por companheiros de farda enquanto dormiam, ignorar o covarde ataque-surpresa ao 3° Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, onde a ordem só foi restabelecida após uma manhã inteira de combates; desdenhar dos cinco dias em que revolucionários comunistas, em Natal, estabeleceram um governo que promoveu a ação de arruaceiros, assassinos, estupradores e assaltantes; sugerir que a inocente menina Elza Fernandes (trucidada segundo ordens do Cavaleiro da Esperança,com consentimento de Olga) era a responsável pelo desastre que somente a incompetência de Prestes provocou, menosprezar tudo isso é risco muito grande. É aceitarmos e legitimarmos perante a história o crime, o fanatismo e o unilateralismo político, a ditadura.
UM BREVE HISTÓRICO DE OLGA ATÉ SUA MISSÃO NO BRASIL
Nascida em Munique, Olga Gutmann Benário era filha do advogado Leo Benário e da socialite Eugénie Gutmann Benário, em uma família judia alemã de classe média. Ingressou ainda jovem no movimento comunista, em 1923, com apenas quinze anos, juntando-se a organização juvenil do Partido Comunista Alemão (KPD), a Liga Juvenil Comunista da Alemanha (KJVD). Pouco depois, mudou-se para Berlim com o então namorado Otto Braun, militante comunista, devido a conflitos ideológicos com seu pai, que era membro ativo do Partido Social-Democrata.
Após a queda da monarquia, instaurou-se um regime formalmente republicano na Alemanha, a chamada República de Weimar. O regime, no entanto, jamais foi aceito pela direita, que o considerava um produto da "traição" do Tratado de Versalhes, nem pela extrema-esquerda comunista, que, esmagada politicamente na repressão ao Levante Spartakista de 1919, quando foi assassinada Rosa Luxemburgo, desejava instaurar o comunismo na Alemanha e formar uma aliança política com a União Soviética. Esse conflito entre a direita e esquerda marcou esse período turbulento da história da Alemanha, com lutas armadas entre milícias paramilitares e homicídios políticos.
Neste clima político, em Berlim, Olga ascende dentro do movimento comunista depois dos conflitos de rua contra milícias de extrema-direita no bairro de Kreuzberg, próximo a Neukolln. Ela foi presa no mesmo dia que Braun, sendo acusados de alta traição à pátria.
Olga (última fileira) com a Liga Juvenil, minutos antes de invadir a prisão de Moabit
logo é solta, mas Braun, não. Junto com seus colegas de militância, planeja então o assalto à prisão de Moabit que libertaria Braun. Logo depois, ambos fogem para a União Soviética, onde Olga, já como quadro valioso, recebe treinamento político-militar na Escola Lenin, trabalhando como instrutora da Seção Juvenil da Internacional Comunista. Separa-se de Braun em 1931.6 Recebe os codinomes de "Frida Leuschner", "Ana Baum de Revidor", "Olga Sinek", "Maria Bergner Vilar" e "Zarkovich".
A Internacional Comunista, desde o fim dos anos 1920, havia seguido na Alemanha uma política ultra-esquerdista, fundada na recusa a coligar-se com os social-democratas numa frente única contra o Nacional-Socialismo, cuja militância os rechaçava categoricamente com as S.A., e a presença de militantes comunistas alemães como Olga no território da União Soviética constituía um embaraço para Josef Stalin que começou a pensar em engajá-los em alguma espécie de empreendimento que pudesse de alguma forma compensar o fracasso da política stalinista na Alemanha (2). - NR
Olga Benário no momento da sua prisão no Brasil, em 1936
Luiz Carlos Prestes e Olga Benário não defendiam democracia de nenhuma espécie para o Brasil, tenhamos isso sempre em mente. Pelo contrário, caso lograssem êxito em sua missão, teríamos nosso País reduzido a simples colônia de Moscou e conviveríamos com uma ditadura ferrenha, que em nome da "liberdade humana", cometeu os maiores crimes e atrocidades da história da humanidade.
Comunistas estrangeiros traçaram lá fora este destino para o Brasil, contando para isso com o apoio de brasileiros desprovidos de senso patriótico, somados a um punhado de ignorantes. Se nós, brasileiros, em algum momento de nossa história, vivêssemos de fato uma ditadura comunista, o filme Olga, se viesse a ser produzido, tenhamos a certeza, contaria história bem mais trágica.
"Não é de hoje que a mídia e os "produtores cinematográficos" brasileiros tendem a contar suas verdades ignorando a verdade histórica e os acontecimentos dos fatos com o simples propósito de propaganda comunistas , anarquista e inversão de valores. [...] Não será nenhuma surpresa se daqui a 20 ou 30 anos aparecer algum "diretor" querendo fazer filme glorificando ou mitificando bandidos do porte de Fernandinho Beira Mar, Escadinha, entre outros de mesmo quilate.
É o que ocorre com essa deformação histórica recém lançada com o suspeito apoio da Petrobras sobre comando Petista". - Marcelo Eiras (MIL-B)
Artigo publicado em "A Tribuna de Santos" no dia 07/09/2004
Nota:
(1) Luiz Gonçalves Alonso Ferreira é bacharel em História pela Universidade Católica de Santos.